Abrima Erwiah é um ser humano inspirador. A empresária
norte-americana atingiu o auge da carreira no mercado do luxo ao ser
transferida de Nova York para Milão, para assumir o cargo de diretora
global de relações públicas da Bottega Veneta, grife italiana em que
trabalhou por dez anos. Nascida no estado americano do Mississipi,
Abrima tem raízes africanas e é sobrinha da primeira top model negra,
Naomi Sims, que foi muito rejeitada pela mídia nos anos 60 . “Minha tia
me ensinou que a moda pode causar transformações. E agora quero dar a
oportunidades das mulheres não se sentirem rejeitadas", diz Abrima.
Para isso, após anos vivendo nas principais capitais da moda, a
executiva mudou-se para a cidade de Acra, capital de Ghana (de onde
veio sua família) em 2012. No país africano, ao lado da atriz de
Hollywood Rosario Dawson, sua amiga de infância, Abrima criou o Studio
189, empresa que possibilitou a profissionalização de mais de 30
mulheres, hoje especialistas em costura, tecidos, estampas e design. O
projeto nasceu do sonho de desenvolver as comunidades carentes na África
e dar uma chance para mulheres, em sua maioria mães solteiras e sem
formação, desenvolverem seus conhecimentos artesanais e tornarem-se
independentes em um país marcado por desigualdades e injustiças.
Abrima conseguiu superar desafios críticos, como a falta de
luz e de água, e acaba de emplacar a primeira coleção da empresa em uma
das principais lojas multimarcas do mundo, a Opening Ceremony. A partir
de março, as´peças do Studio 189 começam a aparecer nas unidas da rede
em Nova York, Los Angeles e Londres.
Com exclusividade para o Estadão, Abrima contou em detalhes
como foi a transição da Itália para Gana e o valor imensurável que a
nova empreitada trouxe para sua vida.
Por que você deixou a carreira de relações-públicas em uma marca de luxo em Milão para se mudar para Gana?
Eu gosto de pensar que eu não larguei uma vida como RP de
luxo, e sim que estou evoluindo na minha carreira. O que eu mais aprendi
com o trabalho que fiz no passado em empresas de luxo como Bottega
Veneta e Hermès é que o verdadeiro luxo respeita, acima de tudo, o
trabalho dos artesãos e as técnicas que são transmitidas por gerações.
Isso, além da inovação, da busca por excelência e por materiais de
qualidade. Em minhas viagens de trabalho, quando circulava fora das
capitais da moda, percebia que existiam muitos talentosos artesãos e
designers fazendo um trabalho incrível e seguiam os padrões de luxo das
principais maisons. Mas eles não recebiam nenhum apoio e não eram
valorizados.
É verdade. Os artesãos estão nos países mais
necessitados do mundo, trabalhando para sobreviver, mas não tem
conhecimento que suas técnicas podem ser valorizadas.
Os artesãos pediram e nós ouvimos. Pediram-nos para voltar e
ajudá-los e nós sentimos que poderíamos fazer a diferença e é isso que
estamos fazendo. Agora o meu trabalho é colaborar com as comunidades
marginalizadas e aplicar o mesmo modelo de negócio de moda e luxo e
ajudar a trazê-los para o mercado. Buscamos criar oportunidades
econômicas que, em seguida, levam a um impacto social no que se refere à
criação de postos de trabalho e à formação de artesãos. Fazemos isso
investindo em educação e focando no desenvolvimento por meio de projetos
de capacitação.
E quais resultados já obtiveram?
O último ano foi muito especial. Fechamos uma parceria com a
iniciativa Ethical Fashion International (EFI), da ONU, que estimula
marcas de luxo a produzir em comunidades artesanais da África Oriental,
da África Ocidental e do Haiti. Eles trabalham com Fendi, Vivienne
Westwood, Stella Jean, Stella McCartney... E com o Studio 189 também!
Nós abrimos uma fábrica em conjunto em Gana, muito perto de nosso
ateliê. Temos treinado artesãos e melhorado a qualidade do nosso
produto. Para mim, essa é a melhor representação do luxo. Você sabe os
nomes de seus artesãos, não mede esforços para identificar a sua cadeia
de suprimentos, trabalha junto com eles e constantemente pensa em como
melhorar os processos manuais. Se nós cometemos erros, nós tentamos ser
melhores. Eu amo o que estamos fazendo.
Como funciona o Studio 189?
O Studio está indo muito bem. O primeiro ano foi focado em
construir a base, certificando-se de que nós poderíamos ter escala e
manter o cuidado com nossas artesãs. Eu deixei o meu emprego de dez anos
na Bottega Veneta, em Milão, e me mudei para Uganda e, em seguida, para
Gana. No segundo ano, nós nos concentramos em levar nosso projeto da
África para o mundo. Participamos de editoriais incríveis na Vogue, no
Style.com, no El Pais e mostramos nossa coleção em Milão e Nova York.
Agora a coleção de primavera será vendida na Opening Ceremony e temos
colaborações especiais que estamos lançando com a Vogue Itália, além de
muitos outros projetos.
Qual a participação de Rosario Dawson no projeto?
Rosario é um anjo. Eu fui abençoada por conhecê-la quando eu
era muito jovem. Rosario é uma ativista social humanitária incrível e
altamente criativa. Ela acredita no trabalho que estamos fazendo. Ela é
um suporte e trabalha muito duro na África, nos EUA ou onde quer que a
nossa missão nos chame emprestando sua voz para compartilhar as
histórias de quem precisa. Rosario e eu dividimos convicções, estéticas e
metas semelhantes. Formamos uma grande equipe.
Você sente falta do glamour de Milão e Nova York?
Não deixei o glamour de Milão e Nova York. Apenas evolui um
pouco para incluir outras partes da sociedade. Eu vejo tanta beleza no
ambiente natural quando estou em Gana! Um coco fresco, um abacaxi doce,
uma lagosta na praia, ar puro, belas paisagens... Além de uma moda linda
e milhares de sorrisos brilhantes! O que é mais glamouroso do que isso?
Sou uma cidadã global, que adora explorar, viver e estar em todos os
cantos do mundo. Milão, Nova York, Paris, Londres, Tóquio, Rio, Xangai,
Accra, Kampala. Todas essas cidades são maravilhosas.
O que você diria para as pessoas que estão em busca de uma transformação como a sua?
Faça! Eu diria que há muito valor em tudo o que você está
fazendo, seja o que for. Você não tem que escolher uma coisa ou outra.
Às vezes, podemos fazer a diferença ou estar em contato com os outros
apenas por ser quem somos e estar ciente das escolhas que fazemos.
Vivemos neste mundo tão interconectado. Nossas escolhas afetam
comunidades em outras partes do nosso próprio país ou em outros países.
Há beleza em estar ciente disso e ter tempo para si mesmo, para visitar
outros lugares ou para ficar onde está e apenas dar algum tempo para si
mesmo. Apreciar a sua comida, respirar, curtir as coisas simples. Onde
estou, por vezes, não temos água e eletricidade. Então, quando posso
tê-los, realmente os aprecio e uso bem. Eu diria que, se você está
pensando em viver uma vida mais autêntica, você deve definitivamente
dedicar tempo a isso e encontrar um equilíbrio com a sua vida atual . O
seu corpo vai agradecer.
Fonte:http://vida-estilo.estadao.com.br/noticias/moda,do-luxo-a-filantropia-um-novo-caminho-para-a-moda,1628942
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